Economia

Economista, apoiador de Lula, diz que há “clara deterioração das contas públicas”

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, diz que houve clara deterioração das contas públicas na gestão de Lula 3

Por Ana Carolina Curvello

O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, que apoiou Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, estranhou os dados da agência de classificação de risco Moody´s que melhorou a perspectiva da nota de crédito do governo brasileiro.
Para Fraga, o Brasil deveria ter sido rebaixado, assim como vários outros países do mundo, como os Estados Unidos, que têm se descuidado no controle das contas públicas. Ele afirmou que o país apresenta “uma deterioração explícita, mas já muito bem percebida, no campo das finanças públicas”.

Fiquei surpreso com a decisão da Moody’s de dar upgrade ao Brasil. Essa classificação tem a ver com a capacidade de o País honrar seus compromissos externos. Mas, fora isso, acho que o Brasil deveria ter sido rebaixado. Temos uma deterioração explícita, mas já muito bem percebida, no campo das finanças públicas”, afirmou em entrevista ao Estadão, publicada nesta segunda (6).

A atual nota do país indica um risco maior para investimentos estrangeiros. Com a mudança na perspectiva, a agência sinaliza que pode elevar o rating no futuro. A Moody’s enfatizou a importância da manutenção da credibilidade do arcabouço fiscal para a “redução das incertezas a respeito da trajetória fiscal”.

A agência apontou que a classificação Ba2 está “baseada na força fiscal ainda relativamente fraca do Brasil, dado o nível elevado de endividamento do país e sua fraca capacidade de pagamento da dívida, que permanece sensível a choques econômicos ou financeiros”.

Outra crítica feita pelo economista foi em relação ao arcabouço apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Segundo ele, a medida “não está dando certo” e ainda apontou que o Brasil tem apresentado uma “dificuldade escancarada” na área fiscal.

Não tem sido uma trajetória de progresso. Não foi até agora. Fui um dos primeiros a apoiar publicamente o arcabouço que o ministro Fernando Haddad apresentou, essencialmente porque o que ele fez foi um movimento em direção contrária ao que o presidente da República vinha defendendo. Foi admirável. Mas não está dando certo”, declarou Fraga. E ainda acrescentou: “O Brasil não é a Venezuela nem a Argentina, mas não há nada que sinalize que vamos entrar em um processo de crescimento mais acelerado e sustentável”.

Já sobre a flexibilização do arcabouço para conter as despesas, como salário mínimo e pisos da saúde e educação, o economista avalia que a situação representa “um problema enorme de falta de prioridade do gasto público”.

É um quadro frágil. Em algum momento vai ter de ser repensado, mas temo que não aconteça durante o atual governo. E temo que isso possa lá na frente gerar uma frustração econômica e uma reversão política”, disse.

O economista também ressaltou que a piora das contas públicas talvez possa levar a uma reversão não só econômica, mas também política, mais à frente.

Se for uma reversão (política) moderada, tudo bem. Sair da centro-esquerda para a centro-direita. Mas se for um governo que caminha mais para a esquerda e produza uma reação para a extrema-direita, aí seria uma desgraça”, declarou.

(Foto de capa: World Economic Forum/Flickr/CC/Reprodução)

Fonte: Gazeta do Povo

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