Economia

Transportadora Jolivan, uma gigante capixaba do setor de transporte rodoviário de cargas

Como um dos pilares básicos para o desenvolvimento do nosso estado e do país, o transporte vem, por décadas, mostrando sua capacidade de recriação e força de romper, a todo momento, os mais variados obstáculos, desde as oscilações de preços dos combustíveis até às péssimas condições da nossa malha viária.
Para Ramon Zuqui Paganini, diretor comercial da Transportadora Jolivan, empresa 100% familiar e genuinamente capixaba, se manter no setor de transporte não é nada fácil, em função dos altos custos, mudanças constantes na legislação, informalidade e entraves que ele elenca em entrevista à AÇO5.0 BR (F&N) deste mês, concedida em seu escritório no município de Viana/ES.

Ramon Zuqui Paganini (Foto: Ascom Jolivan)

Quando e com quem a Transportadora Jolivan teve início?
A Transportadora Jolivan foi fundada em 19 de outubro de 1989, na cidade de Iconha, no sul do Espírito Santo. A empresa teve início como um empreendimento familiar, estabelecido por três irmãos: João Paganini, Vansionir Paganini e Lindor Paganini.

Desde sua fundação, a Jolivan tem se destacado no setor de transporte rodoviário de cargas, expandindo suas operações e consolidando sua presença no mercado nacional. Atualmente, a empresa conta 1.000 cavalos mecânicos próprios e com uma frota moderna de idade média de três anos e uma equipe de colaboradores comprometidos com a qualidade e eficiência dos serviços

Podemos dizer que a empresa é 100% familiar?
Sim, a Transportadora Jolivan é 100% familiar, desde sua fundação. Hoje, o CEO da empresa é um dos sócios-fundadores, e possui mais quatro membros da família fundadora em cargos de direção. Não há sócios externos, mantendo a gestão e a cultura da empresa totalmente nas mãos da família.

Quando falamos de transportes pensamos logo nos altos custos. É difícil manter uma empresa do porte da Jolivan?
Sim, manter uma empresa do porte da Jolivan no setor de transportes é um desafio constante. Além dos altos custos operacionais e da complexidade de cumprir inúmeras legislações e normas, que alteram ano após ano, o setor enfrenta a concorrência de empresas informais, que operam com custos mais baixos por não seguirem todas as regulamentações.

Mesmo assim, a Jolivan se destaca pela sua solidez, mantendo o mesmo CNPJ desde sua fundação, um feito raro em um setor onde a troca de CNPJ é comum devido a problemas fiscais, operacionais e trabalhistas. Com uma gestão robusta, investimento em tecnologia, renovação de frota agressiva, e uma equipe capacitada, a Jolivan segue firme, garantindo a qualidade e a competitividade no mercado.

Quais seriam os maiores desafios do setor nos dias de hoje?
Volatilidade dos preços dos combustíveis — a oscilação do preço do diesel é um dos maiores desafios, pois impacta diretamente os custos operacionais. Como o repasse dessas variações para os fretes não é imediato, os transportadores precisam lidar com aumentos de custos que afetam a margem de lucro diretamente.
Complexidade tributária — o setor de transportes enfrenta uma carga tributária elevada e complexa, com variações significativas entre estados. Esse cenário exige das empresas um controle fiscal rigoroso e constante atualização sobre mudanças na legislação.

Infraestrutura deficiente — muitas rodovias brasileiras ainda estão em más condições, o que aumenta o desgaste da frota, eleva os custos de manutenção e eleva o risco de acidentes. Além disso, há uma carência significativa de pontos de parada e espera para os motoristas descansarem. Eles, frequentemente, dependem de postos de gasolina, que nem sempre têm estrutura suficiente para absorver toda a frota, seja por falta de espaço ou por questões comerciais. Soma-se a isso a ineficiência em muitos clientes, como embarcadores, que possuem períodos longos de carga e descarga, além da falta de banheiros adequados e estrutura de suporte para os motoristas. Esses fatores impactam a eficiência operacional e aumentam os custos das transportadoras.

Roubo de cargas — a segurança das mercadorias continua sendo um grande desafio no setor de transportes. O roubo de cargas é uma realidade que exige investimentos constantes em tecnologia de monitoramento, rastreamento e segurança. Uma das formas de combater esse problema é a aquisição e implantação de sistemas nos veículos para inibir essas ações. No entanto, esses equipamentos elevam os custos operacionais, tornando o frete, muitas vezes, mais elevado e gerando improdutividade, causada por rotogramas de segurança e excesso de regras que geram custos adicionais.

Concorrência informal — empresas que operam sem cumprir todas as regulamentações distorcem o mercado de transportes, oferecendo serviços a custos mais baixos e competindo de forma desleal. Uma solução para mitigar esse problema é a desburocratização do setor. Simplificar as legislações vigentes poderia facilitar o cumprimento das normas por todas as empresas, reduzindo a informalidade e criando um ambiente mais justo e competitivo. Essa abordagem também beneficia as grandes empresas, que já cumprem as normas, ao reduzir a disparidade com concorrentes informais.

(Foto: Ascom Jolivan)

De que forma o empresário do setor de transportes e logística vem colaborando para a construção da nossa infraestrutura?
O empresário do setor de transportes e logística tem um papel essencial na construção da infraestrutura do país, mesmo que, muitas vezes, isso não seja percebido de forma direta, através de investimentos privados em frota e tecnologia. Enquanto o setor público investe em rodovias, o empresário investe constantemente em veículos, sistemas de rastreamento, centros de distribuição e capacitação profissional, contribuindo para uma malha logística mais moderna e eficiente.

No desenvolvimento regional. Ao atender regiões menos acessíveis, os empresários promovem o desenvolvimento local, gerando empregos e incentivando o comércio. Isso contribui para a melhoria da infraestrutura nessas áreas.
Nas parcerias público-privadas (PPPs). Empresários frequentemente colaboram com o poder público em projetos de infraestrutura, como concessões de rodovias e investimentos em portos, aeroportos e ferrovias.

Com inovação e sustentabilidade. Investindo em práticas mais sustentáveis, como frotas menos poluentes, o empresário contribui para a modernização do setor e para a construção de uma infraestrutura mais eficiente e sustentável.
Superação de desafios. O setor de transporte, muitas vezes, é visto como um patinho feio do desenvolvimento, devido aos desafios ambientais e operacionais, no entanto, ele é um verdadeiro desbravador, encontrando soluções para os problemas do país e garantindo que a economia continue em movimento. Sem o transporte terrestre, o Brasil simplesmente pararia, mostrando o papel crucial do setor na superação dos desafios logísticos e no suporte ao desenvolvimento nacional.

Como diretor suplente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do ES (Transcares), você acredita que as instituições associativas são importantes para ajudar a impulsionar o setor?
Sim, as instituições como o Transcares têm um papel fundamental no fortalecimento e na valorização do setor. Elas atuam como ponte entre as empresas e o poder público, levando as demandas do setor, defendendo interesses coletivos e ajudando na construção de políticas que realmente reflitam a realidade do transporte rodoviário de cargas.

Além disso, promovem capacitação, eventos técnicos, debates e iniciativas que ajudam os empresários a se atualizarem, trocarem experiências e buscarem soluções conjuntas para os desafios enfrentados no dia a dia.

(Foto: Ascom Jolivan)

Os governos estão fazendo o dever de casa?
Os governos têm feito avanços pontuais, mas ainda estão longe de cumprir totalmente o seu papel quando se trata da infraestrutura e das condições necessárias para o desenvolvimento sustentável do setor de transportes. Em muitos casos, as melhorias em rodovias, incentivos à modernização logística ou até mesmo a desburocratização de processos ainda são lentas ou insuficientes. Gerando a sensação de que a solução é única e exclusiva do setor privado, nesse caso dos transportadores, autônomos e motoristas.

O que precisamos é de um planejamento de longo prazo, com investimentos consistentes, soluções reais e práticas, políticas públicas mais conectadas à realidade do transportador e, acima de tudo, escuta ativa dos órgãos públicos. O transporte é vital para a economia do país!

Por fim, sabemos que mais de 60% dos produtos no país são transportados pelas estradas. Com os investimentos portuários e industriais da iniciativa privada no Norte e Sul do estado, estaríamos preparados para tal?
Atualmente, aproximadamente 64% das cargas no Brasil são transportadas por rodovias, evidenciando a forte dependência desse modal no país. Os investimentos portuários e industriais no Norte e Sul do Espírito Santo são extremamente positivos e têm o potencial de impulsionar a economia regional e gerar benefícios para todo o território nacional (exemplo, o Porto Central).
No entanto, para que esses investimentos sejam plenamente aproveitados, é fundamental que haja um planejamento logístico integrado. Isso inclui melhorias na infraestrutura rodoviária, como duplicação de vias, manutenção adequada e expansão da malha viária, além da integração com outros modais de transporte, como ferrovias e hidrovias.

Sem essas melhorias e soluções integradas, corremos o risco de enfrentar gargalos logísticos que podem comprometer a eficiência do escoamento de mercadorias, afetando a competitividade das empresas e o desenvolvimento econômico da região. Portanto, é essencial que os setores públicos e privados trabalhem juntos para garantir que a infraestrutura acompanhe o crescimento industrial e portuário do estado.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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