Cientistas encontram molécula “estranha” na atmosfera de Titã
Titã é uma das fascinantes luas de Saturno. Com sua complexidade toda, há muito a conhecermos sobre sua superfície, atividade geológica, entre outros tipos de reações, envolvendo até mesmo moléculas orgânicas. Diversas características a tornam extremamente promissora para a vida e, por isso, recebe tanta atenção. Agora, os cientistas encontram molécula “estranha” na atmosfera de Titã, conforme descrevem em um artigo publicado no The Astronomical Journal.
O ciclopropenilideno (C3H2) forma-se a partir do carbono e do hidrogênio. Trata-se de uma molécula orgânica aromática. Ele é altamente reativo (reage facilmente com quase qualquer molécula que entra em contato), e raramente surge de forma natural na Terra. No entanto, no meio interestelar não é incomum encontrá-lo em quantidades significativas — e aparentemente em Titã também não. Ah, e não se sinta mal em não conseguir falar o nome da molécula — ela é bastante rara, e possivelmente pouquíssimos químicos a conhecem.
Nunca ninguém identificou antes a molécula em uma atmosfera. No entanto, acredita-se que exista uma utilidade para ela. Conforme um comunicado da Nasa, os cientistas acreditam que a molécula poderia servir como um precursor de moléculas orgânicas ainda mais complexas, que poderiam dar origem à vida, ou mesmo já deram.
Vale lembrar que a existência de uma molécula orgânica não é necessariamente uma assinatura de vida. São diversas as formas de surgimento de moléculas orgânicas a partir de atividades geológicas, além de outros fenômenos que catalisam algumas reações químicas. No entanto, moléculas orgânicas são um ponto primordial e essencial para a existência da vida — e se existem, já temos meio caminho andado.
“Quando percebi que estava olhando para o ciclopropenilideno, meu primeiro pensamento foi: ‘Bem, isso é realmente inesperado”, conta em um comunicado Conor Nixon, um cientista planetário da Nasa, além de líder da pesquisa.
Os cientistas observaram Titã utilizando o rádio-observatório ALMA (Atacama Large Millimeter Array), localizado no deserto do Atacama, no Chile, e subordinado ao ESO (Observatório Europeu do Sul, na sigla em inglês). Eles detectaram a molécula “estranha” na atmosfera de Titã — o ciclopropenilideno — através da espectroscopia, isto é, analisando as assinaturas da luz do composto.
Em algum momento da década de 2020, os cientistas lançarão o Dragonfly. Trata-se de uma missão da Nasa para buscar por vida em Titã. O Dragonfly é um pequeno helicóptero (um drone, para ser mais específico). A atmosfera de Titã é quatro vezes mais densa que a atmosfera da Terra, então voar é uma boa aposta, já que um rover é extremamente limitado.
Levando conta ponto além da composição atmosférica e inúmeras reações químicas, Titã também é fascinante a partir de outras perspectivas. Além de ser a maior lua de Saturno, o satélite possui nuvens e chuvas de metano, lagos, rios, muitos também de metano. Além disso, há também a água, mas localiza-se principalmente no subterrâneo, em um grande oceano de água salgada.
“Estamos tentando descobrir se Titã é habitável”, diz Rosaly Lopes, especialista em Titã do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da Nasa. “Queremos saber quais compostos da atmosfera chegam à superfície e, então, se esse material pode passar da crosta de gelo para o oceano abaixo, porque pensamos que o oceano é onde estão as condições habitáveis”.
“Nós pensamos em Titã como um laboratório da vida real, onde podemos ver uma química semelhante à da Terra antiga quando a vida estava acontecendo aqui”, explica Melissa Trainer, astrobióloga da Nasa.
Fonte: Só Científica