Cultura

Artesã das palavras

Em seu novo romance, “Um Dia Chegarei a Sagres”, a escritora e imortal Nélida Piñon reafirma a sua paixão pela língua portuguesa e prepara um documentário autobiográfico que será lançado em 2021

Apesar do amplo reconhecimento internacional e da estante repleta de importantes prêmios literários, Nélida Piñon não é bem uma escritora. Seu trabalho está mais para o de uma artesã que tece obras com palavras e sonhos no lugar de inertes tecidos coloridos. Seu novo romance, o ambicioso “Um Dia Chegarei a Sagres”, demorou um ano para ser escrito — e outro ano para ser reescrito, pelo menos oito vezes, até que cada substantivo e cada verbo estivesse perfeitamente alocado onde a autora os escolheu para descansar. Nélida Piñon é tão interessante quanto seus livros. Aos 83 anos, a escritora carioca e primeira mulher a ocupar a presidência da Academia Brasileira de Letras é carismática como seus personagens. O protagonista Mateus, narrador da obra mais recente, é filho de uma prostituta e criado pelo avô numa aldeia portuguesa do século 19. Isso não o impede de ter utopias — mesmo que sob a perspectiva de um miserável. As pesquisas para o épico já estavam prontas, mas o trabalho em campo teve de aguardar a morte do cãozinho da autora, Gravetinho, que não suportaria a viagem. “Cheguei a Portugal sabendo por onde caminhar, mas precisava estar lá pessoalmente para captar a paisagem, os enigmas do povo, os locais onde o sangue foi derramado”, afirma a escritora. “Eu precisava descobrir de onde veio esse nosso idioma deslumbrante”.
Durante a viagem, ela fez anotações, gravou diálogos, escreveu as 512 páginas do livro à mão. Em maio desse ano, entregou o manuscrito à editora Record. “Sou valente, audaciosa. Enfrentei a pandemia com a minha literatura”. O carisma não lhe rende só aventuras literárias, mas também projetos pessoais. Em uma viagem à região espanhola da Galícia, sentou-se por coincidência ao lado de Sergio Rial, presidente do Santander. Falaram sobre a origem em comum e acabaram virando amigos. Na volta ao Brasil, Nélida ficou surpresa: o banco espanhol havia decidido patrocinar “Nélida”, documentário do diretor Gerson Damiani, que chegará às telas em 2021.

(Foto: Divulgação)

Fonte: IstoÉ

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