Comportamento & Equilíbrio

O sintoma na psicanálise

Texto: Janaína Bernardo Cordeiro

Quando uma pessoa procura um analista ou um terapeuta, geralmente chega ao consultório apresentando uma demanda de algo que se repete ou que lhe está incomodando, tendo a expectativa de que este profissional possa entender o que se passa consigo e, assim, fazer com que esse incômodo desapareça. E é exatamente esta angústia, este mal-estar relatado pelo paciente, que a psicanálise vai denominar de sintoma. Segundo Freud, o pai da Psicanálise, o nosso aparelho psíquico está dividido em consciente, pré-consciente e inconsciente. No consciente, estão os conteúdos que são lembrados, as percepções do cotidiano das quais o sujeito tem conhecimento.
No pré-consciente estão conteúdos que aparentemente a pessoa pode ter esquecido, mas que facilmente são resgatados na memória e assim lembrados. Como exemplo, a data de aniversário de uma pessoa conhecida. Já no inconsciente residem aqueles conteúdos que estão fora da consciência, ou seja, que de fato estão esquecidos. Como não seriam passíveis de serem suportados, uma vez que a sua lembrança causaria um imenso desprazer, são censurados e ali ficam reprimidos. Porém, este conteúdo que se encontra “escondido”, encontrará uma forma de vir à tona, se manifestando através de um mal-estar, de um sofrimento, que não aparece por um acaso.
Para a Psicanálise o sintoma é uma formação do inconsciente, o resultado de um conflito psíquico gerado por duas forças distintas, desejo e repressão, se expressando como uma vontade que não pode ser realizada. O ego, que é o nosso gerenciador da realidade, se encarrega de eliminar este conteúdo do consciente, através de um mecanismo chamado recalque, que nada mais é que um tipo de censura, uma barreira de repressão que faz com que algo se torne inconsciente. Porém, o que está recalcado não vai embora. Essa repressão apenas ocasiona um esquecimento temporário, mantendo uma memória de afeto que de alguma maneira tentará emergir. Como se encontra censurada pela consciência, esta encontrará um disfarce, uma válvula de escape para se manifestar, ressurgindo através de um sintoma.
Diferente da conceituação da medicina, que vai dizer que o sintoma é de origem orgânica, a psicanálise infere que o sintoma está ligado aos processos psíquicos que não estão bem resolvidos, proveniente do constante conflito que o ser humano vivencia entre impulsos e proibições. Ou seja, aqueles desejos e vontades que não podem se concretizar, vão encontrando outras saídas, gerando assim sintomas psíquicos ou físicos.
O sintoma tem grande importância para a clínica psicanalítica, pois é uma das principais vias de acesso à subjetividade do paciente. É na observação da angústia e do sofrimento que o sintoma gera no sujeito, que o analista vai se debruçar, de forma a observar a dinâmica desses processos inconscientes e antagônicos. Durante o processo analítico, à medida que o paciente fala, verbaliza suas questões livremente, vão emergindo novos elementos, aumentando a quantidade de material para que o analista possa acessar este conteúdo original e melhor interpretá-lo. Através desta dinâmica, o sujeito vai entendendo a relação do seu desejo com o seu sintoma e vai pouco a pouco atravessando seus “fantasmas”, de forma a alcançar uma boa elaboração neste processo. É importante ressaltar que nem todo conteúdo do inconsciente é passível de acesso, mas uma vez que a pessoa os compreenda, poderá melhor administrá-los ou até mesmo saná-los, gerenciando mais satisfatoriamente sua vida e suas emoções.

Janaína Bernardo Cordeiro
Psicanalista — Formação em Psicanálise Clínica
Graduada em Design de Modas
Pós-graduada em Arte na Educação

E-mail: jbernardocordeiro@yahoo.com

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