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CURIOSIDADES — Qual a origem da festa junina no Brasil?

Comemoração desembarcou em solo tupiniquim em meados do século 16

O mês de junho marca não apenas o fim do primeiro semestre do ano como também a chegada de uma das comemorações populares mais adoradas pelos brasileiros: a festa junina. Afinal, é impossível não se deixar levar pelo ritmo envolvente da quadrilha ou pelos quitutes deliciosos feitos à base de milho e amendoim, ou então do sempre aclamado quentão.
A festa junina é uma celebração tão importante em nosso calendário que ela desperta não só a expectativa por um bom arraia como também aguça nossa curiosidade. É isso que mostram dados fornecidos pelo Google com exclusividade ao site do Aventuras na História.

Para se ter uma ideia, a busca pelo termo ‘festa junina’ foi seis vezes maior (+460%) na comparação dos últimos 30 dias com o período anterior. Já nas últimas duas semanas, as buscas dobraram, com um aumento de 130%.
Os dados ainda apontam que a pergunta “qual a origem da festa junina?” é a mais feita na ferramenta de buscas do Google, seguida por “como fazer quentão para festa junina?” — que teve um aumento de +650% no último mês.
Extremamente popular nos dias atuais, a festa junina que celebramos hoje não se parece nenhum pouco de como era sua comemoração ‘original’. Se na contemporaneidade a tradição é muito ligada ao catolicismo, suas origens remetem aos festivais pagãos.

“No caso da festa junina, descobrimos que estão relacionadas a festividades pagãs realizadas na Europa durante a Idade Média, na passagem da primavera para o verão, momento chamado de solstício de verão (que acontece nessa região em junho)”, aponta Maurício Saliba, professor de Sociologia da Universidade Estácio, em entrevista ao Aventuras.

O professor conta que estas festas não tinham o mesmo significado que possuem hoje e tampouco eram celebradas da mesma forma. “Elas tinham por objetivo afastar os maus espíritos ou pragas que afetassem as lavouras. Celebrava-se o tempo de plantar e pedia-se proteção aos deuses para as colheitas”.
A festa junina que conhecemos atualmente só passou a ser desenhada quando a Igreja Católica começou seu processo de cristianização e deu à festa um “caráter cristão” — onde se comemora e festeja os santos, como Santo Antônio, São João e São Pedro.

“A festa junina, que surge no meio pagão, vai sendo aos poucos cristianizada, ou seja, adotada e convertida ao cristianismo, a partir do momento em que o Cristianismo se confirma como a principal religião da Europa”, aponta ele.

Saliba conta que, com esse processo, a festa originalmente pagã acabou sendo incorporada ao calendário festivo do catolicismo — sendo celebrada pelos católicos. Essa prática de conversão, aliás, era muito comum naquele período, servindo para consolidação da Igreja Católica e facilitando a conversão de diferentes povos pagãos. “E isso era feito adicionando essas festas ao calendário católico e, sobrepondo a elas, elementos cristãos. Várias outras festas católicas nasceram entre os pagãos ou mesmo entre os romanos e foram aculturadas e cristianizadas, se transformando em festas católicas. O Natal é outro exemplo”, diz.

Por que o mês de junho?
Agora que já sabemos como a festa junina se difundiu na Idade Média, outro ponto chama a atenção: existe algum motivo para a data ser celebrada no mês de junho? Maurício Saliba explica que sim, tanto para os pagãos quanto para os católicos.
“Por conta do chamado de ‘solstício de verão’, que tem origem nos termos latinos ‘sol’ e ‘sistere’, traduzidos como a ‘parada do Sol’. Pela posição do sol, tem-se a impressão de que ele para de movimentar-se no céu. Na verdade, é um evento astronômico em que a Terra recebe a maior quantidade de raios solares e são, consequentemente, os dias mais longos e as noites mais curtas do ano”, explica.
O solstício de verão, justamente, marca o começo do verão no hemisfério norte, o que engloba a Europa. Desta forma, aponta o professor, em junho, povos camponeses europeus se juntavam para celebrar a colheita e pedir proteção, o que acabou mantido pelo calendário católico.

Fogueira de São João (1912) (Foto: Nikolai Astrup/Museu Nacional de Arte/Wikimedia Commons)

“Como não conseguia extinguir essa tradição, a Igreja Católica introduziu nelas o caráter religioso. Manteve o mês de junho como mês da festa pois aproveitou os dias dos santos mais populares que são comemorados no mês de junho. Primeiro com São João e São Pedro, e mais tarde, especialmente em Portugal, com Santo Antônio”, aponta o professor de Sociologia da Universidade Estácio de Sá.

A festa junina no Brasil
Se na Europa a festa junina começou a se espalhar por conta da influência católica, no Brasil as coisas não foram diferentes. Em terras tupiniquins, a tradição desembarcou em meados do século 16, através dos portugueses, durante o processo de colonização.

“Já era uma tradição bastante popular em Portugal e Espanha, e era conhecida como festa joanina, em referência a São João, mas, como ocorre em junho, seguindo a tradição da sua criação, seu nome foi alterado para festa junina”, conta Saliba.

Assim, aos poucos, a festa foi se adaptando ao nosso país. Um grande exemplo disso é a dança da quadrilha, que possui sua origem nas danças da nobreza francesa, mas hoje em dia possui uma levada muito mais regional.
O costume de soltar balões também veio dos lusitanos, embora, hoje, a prática seja um crime previsto nas leis ambientais. Outro ponto que se ‘regionalizou’ foram as decorações. No princípio, as famosas bandeirinhas eram decoradas com figuras de santos, mas os passar dos anos as tornaram mais coloridas.

A simbologia da festa junina
Por aqui, a festa junina, além dos fatores já citados, também é conhecida por símbolos que, embora não sejam exclusivos apenas desta data do ano, fazem uma associação direta com ela: como as fogueiras e o milho.
Mas engana-se quem pensa que esses elementos são arbitrários. “O fogo tem lugar de destaque em todas as culturas, até porque o avanço da humanidade acontece com o domínio do fogo”, ressalta Maurício.

“As civilizações antigas como gregos e celtas comemoravam a data como uma celebração de fertilidade, rogando aos deuses que garantissem boas colheitas. Geralmente, essas festas tinham muita comida, bebida, dança e fogueiras”, completa.

Na Idade Média, por exemplo, era comum que as festas pagãs fossem realizadas em torno de fogueiras, que saudavam a chegada do verão e simbolizavam a proteção contra os maus espíritos. “Essa tradição foi mantida e seguida pelo catolicismo”, pontua Saliba.
Já em meados do século 6, a Igreja Católica passou a associar essa tradição pagã à data de nascimento de São João. “Segundo a tradição católica, Isabel fez uma fogueira para avisar sua prima Maria do nascimento de seu filho, São João. A ligação entre cultura pagã e cristianismo é reproduzida até hoje tendo a fogueira como um elemento simbólico e importante”, diz o docente.
Por fim, como já dito, as antigas festas eram regadas de bebidas e comidas oriundas das plantações. No Brasil, a festa junina incorpora essa tradição, trazendo sua culinária do campo para alimentos feitos à base de milho, como pamonha, curau, pipoca, bolos de milho e tudo mais. “No nordeste do Brasil, a festa junina é uma tradição muito forte com grandes festas que se prolongam até o mês de julho”, encerra Maurício Saliba.

Fonte: Aventuras na História

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