Liberdade econômica engatinha no Brasil; quais estados facilitam a vida do empreendedor
Por Vandré Kramer
Passados quatro anos da sanção da Lei da Liberdade Econômica (LLE) pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), a liberdade econômica ainda engatinha em muitos locais do País, em especial nas regiões Norte e Nordeste. A posição do Brasil segue ruim nos principais rankings internacionais: é o 90.° entre 165 países, segundo o Fraser Institute, do Canadá, que divulgou seu ranking de liberdade econômica na terça (19).
Sancionada em 20 de setembro de 2019, a LLE estabelece uma série de ações para reduzir a burocracia nos negócios e facilitar a vida de empreendedores e empresas, em especial as de pequeno e médio porte. Foi uma das primeiras grandes medidas de viés liberal preparada pela equipe do então ministro da Economia, Paulo Guedes.
Além de reforçar princípios do livre mercado, a lei prevê dispensa de alvará para atividades de baixo risco; determina prazos para que órgãos respondam aos pedidos do empreendedor; e busca limitar o poder do Estado com a figura do “abuso regulatório”.
Mas, embora vigente na esfera federal, a legislação ainda tem muito a avançar nos níveis estadual e municipal, onde estão alguns dos principais obstáculos ao empreendedorismo.
Um levantamento do Instituto Liberal de São Paulo (Ilisp) mostra que, até a última terça-feira, 16 das 27 unidades da federação e 995 dos 4.320 municípios brasileiros com mais de cinco mil habitantes implementaram medidas para reduzir a burocracia e facilitar a abertura e o fechamento de empresas.
Santa Catarina (com adesão de 66,8% das cidades), Rio Grande do Sul (64%) e Espírito Santo (63,6%) são os estados em que proporcionalmente mais municípios adotaram iniciativas de liberdade econômica. Na média nacional, somente 23% dos municípios com mais de cinco mil habitantes aderiram até agora. Em 13 estados a adesão não chega a 10% das cidades.
Embora estados do Sul e Sudeste se destaquem entre os que mais facilitam a vida do empreendedor, há exceções também nessas regiões.
Dono do maior PIB do País, o estado de São Paulo aprovou uma legislação de liberdade econômica, mas ainda não a regulamentou. E só 12% dos municípios paulistas implantaram regras que facilitam a vida do empreendedor. O Paraná tem LLE na esfera estadual, mas apenas cerca 18% de seus municípios aprovaram legislação própria.
Um estado que não criou uma LLE mas implantou medidas de desburocratização para as empresas foi a Bahia, que, em 2020, criou uma portaria da Secretaria da Saúde local para estabelecer a classificação do grau de risco das atividades econômicas sujeitas ao licenciamento sanitário.
A Assembleia Legislativa do Maranhão chegou a aprovar uma lei de liberdade econômica, contudo, a proposta foi vetada pelo governo estadual em junho. No estado, só 7% dos municípios com mais de cinco mil habitantes têm regras desse tipo. Três cidades com mais de um milhão de habitantes ainda não tem LLEs: Goiânia (GO), Guarulhos (SP) e São Luís (MA).
O impacto da liberdade econômica na criação de empregos e empresas
Desde a entrada em vigor da LLE, segundo o Ilisp, com a adoção desse tipo de medida por estados e municípios, observou-se um impacto na criação de empregos e no desenvolvimento de novas empresas no País.
Estudo da entidade mostra que, nas cidades que aprovaram a legislação, houve um aumento médio de 40,3% no número de contratações em comparação ao período anterior à lei, bem superior ao avanço no número de demissões (24,8%), o que mostra a criação de oportunidades de trabalho com carteira assinada.
A liberdade para abrir e manter uma empresa no Brasil aumentou nos últimos anos, mas ainda somos um País burocrático e cheio de regras conflitantes nos três níveis de governo”, diz o CEO do instituto, Marcelo Faria.
Nordeste e Norte concentram estados que não aprovaram leis de liberdade econômica
Dos 11 estados que ainda não aprovaram a LLE, dez estão no Norte e no Nordeste. A baixa adesão dos estados se reflete nos municípios: são minoria os que aprovaram medidas de desburocratização das atividades econômicas. Nesse grupo de dez estados, somente Rondônia tem mais de 10% de municípios que aprovaram a legislação.
No Nordeste, apenas Alagoas, Pernambuco e Piauí têm uma lei de liberdade econômica. O último estado a implantar uma lei deste tipo foi o Piauí. Aprovada em 12 de abril, foi regulamentada por decretos estaduais em 12 de maio e 7 de agosto.
Faria aponta que um ponto positivo na legislação piauiense é que ela dispensa o maior número de atividades da necessidade de um alvará: 858 ao todo.
Outra região problemática é o Norte. Apenas Pará, Roraima e Acre têm legislações estaduais sobre liberdade econômica. No Amapá, Amazonas e Acre, apenas uma cidade mapeada em cada estado tem medidas nesse sentido.
Não há como não enxergar que esse cenário pode dificultar muito a atração de negócios à região. É fundamental que os estados e municípios adotem a lei visando uma facilitação dos negócios, gerando mais empregos, renda e impostos para todo o Brasil”, destaca o instituto.
Brasil patina nos rankings de liberdade econômica
Mesmo com o avanço das legislações de liberdade econômica no País, o Brasil ainda não está bem posicionado nos principais rankings internacionais do tema. O mais recente, do Fraser Institute e referente a 2021, mostra que o País está seis posições acima da registrada em 2020, e duas abaixo da de 2019. O destaque é a solidez da moeda (74ª) e o pior indicador, a regulação (133°).
Outro importante ranking, da norte-americana Heritage Foundation, mostra que o Brasil está na 127ª posição em um ranking de 176 países.
Nos últimos quatro anos, a nota brasileira tem oscilado em torno de 53,5, em uma escala que vai de zero (sem liberdade econômica) a 100 (liberdade econômica total). Isto coloca o País entre aqueles majoritariamente sem liberdade econômica. A pior nota do País é no quesito saúde fiscal e a melhor, em liberdade monetária.
Lei de Liberdade Econômica por estado
Confira a seguir os estados que aprovaram ou não suas leis de liberdade econômica, e o porcentual de municípios (com mais de cinco mil habitantes) que implantaram medidas locais:
Estado Santa Catarina Rio Grande do Sul Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro Mato Grosso do Sul Mato Grosso Roraima Paraná Alagoas Rondônia São Paulo Pará Pernambuco Ceará Goiás Maranhão Bahia Paraíba Amapá Tocantins Sergipe Acre Rio Grande do Norte Amazonas Piauí | Tem LLE? Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim* Sim Sim Não Não Não Parcial** Não Não Não Não Sim Não Não Sim | % dos municípios com LLE 66,84% 64,04% 63,64% 49,68% 32,61% 30,14% 22,43% 20,00% 17,69% 13,40% 13,04% 11,90% 10,49% 9,84% 9,29% 7,95% 7,01% 6,90% 6,37% 6,25% 5,63% 4,69% 4,55% 2,56% 1,64% 0,68% |
**Bahia só tem flexibilização para a Vigilância Sanitária.
Fonte: Ilisp
Fonte: Gazeta do povo