Altas concentrações de gás carbônico no ar prejudicam a cognição
Estudo revela que, no pior cenário de emissões, o nível de CO2 na atmosfera em 2100 fará a capacidade humana de elaborar raciocínios simples para tomar decisões cair até 25%
As concentrações elevadas de gás carbônico na atmosfera poderão causar declínios cognitivos importantes nos seres humanos, caso nada seja feito para cortar emissões. A análise é de um trio de pesquisadores americanos e é um dos primeiros estudos a apontar um efeito direto dos gases de efeito estufa sobre a saúde.
O grupo, liderado por Kristopher Karnauskas, da Universidade do Colorado em Boulder, afirma que, no pior cenário de emissões, os níveis de CO2 na atmosfera estarão tão altos no final do século que a capacidade das pessoas de desenvolver raciocínios simples para tomada de decisões pode cair 25%. Para raciocínios complexos, que envolvam estratégia, o declínio é ainda mais acentuado: 50%.
O estudo, publicado no periódico “GeoHealth”, lembra que em toda a história do Homo sapiens as concentrações de CO2 no ar jamais alcançaram valores sequer próximos dos que existem hoje. Nossa espécie tem cerca de 300 mil anos de existência e, segundo registros paleontropológicos, passou por uma explosão cognitiva cerca de 100 mil anos atrás. Em todo esse período, as concentrações de gás carbônico na atmosfera jamais ultrapassaram 300 partes por milhão (ou seja, 300 moléculas de CO2 por milhão de moléculas de ar).
Desde a Revolução Industrial, as concentrações de CO2 na atmosfera ultrapassaram 411 partes por milhão (ppm). Hoje elas estão ao redor de 415 ppm – em áreas urbanas, chegam perto das 500 ppm. É a maior concentração em pelo menos 800 mil anos e, provavelmente, em 3,5 milhões de anos.
O CO2 é tóxico para seres humanos. Em concentrações altas, causa asfixia e morte, mas também tem efeitos nocivos sobre o cérebro em concentrações menores. O gás atravessa a barreira sangue-cérebro e causa perda de oxigênio nos neurônios. Isso causa tontura, sonolência, confusão mental, ansiedade e declínio da percepção visual.
Karnauskas e seus colegas fizeram uma revisão extensa da literatura existente sobre efeitos do CO2 na saúde e encontraram vários estudos mostrando que, em ambientes fechados, como escolas e escritórios, as concentrações de CO2 chegam a ficar 400 ppm mais altas do que em lugares abertos. Vários trabalhos realizados desde a década de 1990 mostraram que essa overdose de gás carbônico por longos períodos tem impactos significativos na concentração, na capacidade de tomada de decisão e na habilidade de pensar estrategicamente – que envolve analisar diversas consequências de longo prazo possíveis de uma determinada ação.
Os declínios mais significativos foram notados com concentrações mais altas – de 945 a 1.400 ppm. Coincidentemente, afirmam os pesquisadores, 930 ppm é o que os modelos do IPCC (o painel do clima da ONU) estimam que será a concentração de CO2 no planeta inteiro em ambientes abertos no fim deste século caso nada seja feito para reduzir emissões.
“O melhor jeito de evitar que os níveis de CO2 em ambientes fechados atinjam patamares prejudiciais à cognição humana é reduzindo emissões de gases de efeito estufa”, escrevem os autores.
Fonte: Revista Planeta