Ajuste fiscal com aumento de impostos colapsou, disparam bancos
Federação de Bancos diz que a agenda econômica do governo está levando ao derretimento do controle fiscal
Por Guilherme Grandi
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, afirmou nesta quinta (13), que o ajuste fiscal por meio da receita — aumento de impostos, a opção adotada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início do novo governo — chegou ao nível de colapso.
A declaração foi feita no mesmo dia em que o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, teve que vir a público tentar acalmar os ânimos do mercado financeiro e reconhecer a necessidade de revisar os gastos do governo, com uma análise do que pode ser efetivamente cortado.
É nítido que a agenda de ajuste fiscal, pelo lado das receitas e do aumento da carga tributária, colapsou. O pessimismo e os ruídos têm crescido rapidamente, como podemos ver nos preços dos ativos, com a forte alta do dólar, a queda da Bolsa e o aumento dos juros futuros”, disse Sidney em entrevista ao Estadão.
Sidney e presidentes de instituições financeiras privadas terão uma reunião com Haddad e o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, em São Paulo, nesta sexta (14), às 9h30, para discutir a conjuntura econômica do país. Estão confirmados representantes dos bancos Santander, Bradesco, Itaú e BTG Pactual.
A alta do dólar que acumula valorização de 10,6% em 2024 foi destacada por Sidney como um “sinal amarelo” tanto para a economia quanto para a política. “A alta do dólar é fonte de pressão inflacionária, exatamente por desajustar os preços”, pontuou.
A moeda chegou a bater recorde nesta semana, mas terminou a quinta (13) a R$ 5,36 após a declaração de Haddad de que pretende sugerir o corte de gastos do governo. O ministro ficou profundamente desgastado com o setor produtivo e com importantes bancadas do Congresso com a medida provisória — devolvida ao governo pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) — que restringia o uso de créditos do PIS/Cofins, afetando principalmente o agronegócio e os exportadores.
A medida pretendia compensar a desoneração da folha de pagamento dos 17 setores que mais empregam e dos municípios, mas irritou lideranças empresariais que se sentem sobrecarregadas com o ajuste fiscal do governo. A Fazenda pretendia arrecadar R$ 29 bilhões com a medida.
“Fiador da economia”
Apesar das turbulências, Sidney considera Haddad como o “fiador da economia” e reforça a necessidade de apoio tanto internamente pelo governo como pelo próprio mercado financeiro.
É hora de estendermos a mão ao ministro, pois a agenda econômica vem perdendo tração e o fiscal não pode mais derreter”, disse.
O presidente da Febraban defendeu uma ação rápida e a necessidade de enfrentar o debate sobre os gastos públicos, que inclui a desindexação do Orçamento, revisão dos incentivos fiscais, dos pisos de educação e saúde, dos gastos da Previdência e da vinculação ao salário mínimo.
Em meio a essas pressões, Haddad e a ministra Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento, anunciaram a intensificação da agenda de revisão e corte de gastos, que ainda não foi implementada. Segundo a equipe econômica, o cardápio de alternativas é amplo e será apresentado a Lula.
Sidney alertou que sem uma reavaliação criteriosa do crescimento das despesas, a política fiscal tende a permanecer expansionista (ou seja, gastando cada vez mais), impedindo uma acomodação mais rápida da política monetária, que está em um nível bastante restritivo.
Reunião do BC será decisiva
Nesse cenário, o Banco Central poderá interromper o processo de redução da taxa básica de juros, a Selic, que atualmente está em 10,5% ao ano.
O ganho que tivemos com a aprovação do arcabouço fiscal, que levou o BC a reduzir os juros, está se esvaindo com o aumento das incertezas fiscais. Isso sem contar o risco de mais divisão no Copom, o que seria um cenário ruim para ancorar as expectativas de inflação”, pontua Isaac Sidney.
O Comitê de Política Monetária (Copom) da autoridade monetária se reunirá na próxima semana para discutir os rumos da Selic em meio à pressão do governo por mais cortes e do mercado, mais cauteloso.
Fonte: Gazeta do Povo