O café conilon capixaba, de produto modesto para exportação de café solúvel

Conteúdo Publicado na Revista Alimentos & Negócios
O café é uma das principais culturas agrícolas do Espírito Santo, se destacando pela produção da variedade conilon (ou robusta, como é conhecido mundialmente). Esta variedade é classificada como Coffea canephora e a origem do termo conilon está ligada à uma corruptela do seu nome original, “Kouilou”, que é ao mesmo tempo uma região no Congo (país localizado na África Central) e um rio local. A França ocupou essa região por volta de 1880, quando criou a África Equatorial Francesa, tendo encontrado essa variedade de café em estado selvagem.
Para conhecer um pouco mais sobre o café, em termos de composição química, recomendo o texto publicado pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ), intitulado “Café: Aspectos Gerais e seu Aproveitamento para além da Bebida”, produzido por Rezende e outros, e disponível através do acesso à https://qnint.sbq.org.br/novo/index.php?hash=tema.99. O café conilon possui alto teor de cafeína e forma mais econômica de produção no campo, o que o diferencia do café arábica ou Coffea arabica, originário da Etiópia. Esta variedade representa cerca de 60% da produção mundial e aproximadamente 70% da produção nacional de café.
A produção de café no ES se iniciou pela variedade arábica, na década de 1910, mas foi praticamente erradicada nos anos 60, por causa da superoferta do produto no mercado mundial, para equalizar seu mercado. A variedade conilon é introduzida a partir dos anos 70, apesar da resistência inicial sobre sua qualidade (“um veneno no campo”, como se dizia) e isto se deve aos esforços da família Martinelli, de São Gabriel da Palha. Hoje, 50 anos depois, o conilon, além de reconhecido, é uma das forças econômicas da agricultura capixaba.
“O Espírito Santo é o maior produtor de café conilon do Brasil, responsável por aproximadamente 70% da produção nacional. O valor de produção do conilon representa 38% do PIB agrícola capixaba. Atualmente, existem 286 mil hectares plantados de conilon no Estado. São 49 mil propriedades rurais em 68 municípios”. (INCAPER, https://incaper.es.gov.br/cafeicultura-conilon).

Atualmente, os municípios que mais se destacam na produção de conilon no Espírito Santo, segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), são: Linhares, Rio Bananal, Jaguaré, Vila Valério, Nova Venécia e São Gabriel da Palha. O conilon se adapta melhor a regiões mais quentes e de menor altitude, sendo que é cultivado tradicionalmente abaixo de 500 metros, em relação ao nível do mar.
O café, independente de sua variedade, é uma commodity agrícola, isto é, tem suas características técnicas padronizadas, o que facilita a comercialização em grandes quantidades, é produzida em larga escala, além de ser um dos produtos mais comercializados globalmente, assim como também é negociada em bolsas de valores, onde são elaborados contratos futuros e opções.
Passar, portanto, de uma economia baseada em commodities do café para produtos industrializados é crucial para diversificar exportações, agregar valor e gerar empregos mais qualificados, promovendo um crescimento econômico sustentável e reduzindo a vulnerabilidade às flutuações de preços internacionais.
Esta transição se apoia em inovação tecnológica, elevando o desenvolvimento socioeconômico regional, e está acontecendo neste exato momento no norte do ES, com foco em Linhares, com a implantação de grandes plantas industriais (Café Cacique e OLAM) que, juntas, produzem cerca de 25 mil toneladas de café solúvel/ano, para exportação. Este processo começa com grãos torrados e moídos, quando são submetidos à um processo de extração com água quente, com o objetivo de concentrar os sabores e aromas na forma de uma mistura líquida. Esse extrato é então desidratado, transformando-o em pó por meio de duas principais técnicas: liofilização (por congelamento e vácuo) ou pulverização (com ar quente).

O núcleo central destes processos (liofilização ou pulverização) possuem detalhes técnicos protegidos por confidencialidade, entretanto aspectos básicos são divulgados e devem ser conhecidos por aqueles que pretendem ingressar neste segmento industrial. Basicamente, a mistura líquida ou extrato, deverá ser aquecida para evaporar parte da água, quando será aumentada a concentração de sólidos de aproximadamente 10% para 40%. Na etapa de secagem, o extrato concentrado será desidratado por um dos métodos abaixo para transformá-lo em pó ou grânulos.
Secagem por aspersão (spray drying): o extrato concentrado é pulverizado em uma câmara de ar quente. A água evapora rapidamente, resultando em um pó fino.
Liofilização (freeze drying): o extrato de café é congelado e, em seguida, a pressão é reduzida drasticamente. A água solidificada passa diretamente para o estado gasoso (sublimação), deixando para trás grânulos de café solúvel. Esse método é mais sofisticado e geralmente preserva mais o aroma e sabor do café.
O Brasil é um dos maiores produtores (e exportadores) de café solúvel do mundo, e graças ao antigo “patinho feio” da cafeicultura nacional, o conilon, o ES faz parte uma sofisticada vertente do agronegócio estruturada em alta tecnologia e inovação.












