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Apesar do declínio surpreendente, borboleta-monarca não é listada como ameaçada de extinção

Menos de duas mil borboletas-monarca da região oeste dos EUA foram contabilizadas na Califórnia no segundo semestre de 2020. Mesmo assim o governo não as listou como espécie ameaçada de extinção

As borboletas-monarca migratórias da região oeste
da Califórnia, nos Estados Unidos, tiveram um recorde de baixa em sua população neste ano, e estão correndo perigo de extinção, de acordo com o último levantamento do número de exemplares da espécie. A contagem anual de outono no Hemisfério Norte, embora não finalizada, está em menos de dois mil — um declínio significativo de cerca de 30 mil insetos documentados na contagem do ano passado e dos milhões que existiam na década de 1980. Esses números, coletados pela Sociedade Xerces para Conservação de Animais Invertebrados, foram divulgados após o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos anunciar hoje que não recomenda que a espécie seja protegida sob a Lei de Espécies Ameaçadas.
Embora o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos tenha constatado que a borboleta-monarca atende aos critérios de listagem da Lei de Espécies Ameaçadas, a agência optou por não a incluir na lista, citando a necessidade de concentrar recursos em “ações de listagem de maior prioridade”, segundo Lori Nordstrom, diretora regional assistente para serviços ecológicos do escritório regional de Grandes Lagos da agência, que analisou a designação da espécie. O escritório de Grandes Lagos considera nove espécies regionais como tendo maior prioridade para listagem, incluindo o pequeno-morcego-marrom, rãs da espécie pseudacris streckeri illinoensis e a toutinegra-de-asa-dourada, explica Nordstrom.
A borboleta-monarca é uma “candidata” à lista, reitera Nordstrom, acrescentando que o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos revisará seu status anualmente. Se em 2024 ainda houver necessidade de ser listada como uma espécie ameaçada de extinção, a agência irá propor a listagem da borboleta-monarca, ela afirma.
A Sociedade Xerces comunicou à imprensa que, embora esteja contente pelo fato de a agência garantir a proteção, a borboleta-monarca “não pode esperar”.
A proteção sob a Lei de Espécies Ameaçadas exigiria que o governo desenvolvesse e financiasse um plano de recuperação abrangente a nível nacional. Também incluiria uma votação adicional para qualquer atividade federal — como a construção de muros de fronteira — que pudesse colocar em risco o habitat ou a sobrevivência das borboletas-monarca.
A população de borboletas-monarca da região oeste, que migram para a costa da Califórnia nos invernos do Hemisfério Norte, caiu 99% nos últimos 40 anos.
“Provavelmente estejamos testemunhando o colapso da população da espécie no ocidente”, relatou Sarina Jepsen, diretora do programa de espécies ameaçadas de extinção da Xerces, à Associated Press. No mês passado, as borboletas também perderam a proteção que tinham sob a Lei de Espécies Ameaçadas da Califórnia, após decisão judicial de que a regulamentação não se aplicaria mais a insetos.
Borboletas-monarca da região leste, famosas por sua migração de aproximadamente quatro quilômetros ao México central, também estão em risco, visto que seus números diminuíram cerca de 80% nos últimos 40 anos.
A degradação ambiental e o aumento do uso de inseticidas em plantas asclepias — única hospedeira para ovos de borboletas-monarca e única fonte de alimento para suas lagartas — são citados como acentuadores do declínio, razão pela qual campanhas de plantio de asclepias foram promovidas como uma forma de ajudar a salvar as borboletas. No entanto, esses fatores não foram comprovados como a causa do declínio da espécie, adverte Arthur Shapiro, professor de evolução e ecologia da Universidade da Califórnia, em Davis, que monitora populações de borboletas no centro-norte do estado há quase 50 anos.
A conclusão é que “não se sabe nem se entende muito sobre esse declínio”, esclarece ele. Durante quase 200 dias em campo neste ano, Shapiro avistou apenas 10 borboletas-monarca adultas, conta ele — e não identificou uma única lagarta da espécie na natureza ao longo de três anos.
Shapiro propõe uma teoria de por que a velocidade de declínio das borboletas-monarca da região oeste aumentou significativamente de 2019 para 2020. Ele sugere que, em 2019, incêndios florestais extremos causados pelas mudanças climáticas queimaram grande parte de seu habitat, e o aquecimento das temperaturas aumentou o metabolismo do solo, levando à escassez de alimentos. Ademais, o aumento do plantio de asclepias tropicais não nativas por jardineiros que querem ajudar aumentou a taxa de reprodução durante o inverno. Porém, como as asclepias tropicais não morrem sazonalmente, elas podem acumular um parasita debilitante, às vezes mortal, que, por sua vez, infecta as larvas da borboleta-monarca.
Além disso, Shapiro sugere que o aumento de dióxido de carbono resultante dos incêndios na Califórnia também poderia causar o aumento da produção de esteroides tóxicos pelas asclepias, chamados cardenolídeos. As borboletas-monarca evoluíram para resistir a um certo nível dessa toxina, armazenando-a em seu corpo como dissuasor com sabor amargo para potenciais predadores — mas que é letal em grande quantidade.
A inclusão da borboleta-monarca na lista de espécies ameaçadas de extinção foi polêmica desde o início, porque potencialmente significaria que os agricultores enfrentariam mais regulamentações com relação a pesticidas e ao uso da terra.

Foto: Yichuan Cao/Nurphoto/Getty Images

Fonte: National Geographic Brasil

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