Mentiras em abundância. Escrúpulos em escassez — Parte II
O prazer pela sensação de poder absoluto é o gozo do predador sexual de crianças e mulheres. Há uma campanha permanente de divulgação de artigos que espalham mentiras e induzem a posturas autoritárias
Retomando nosso tema começado há três semanas, convido a todos para nadar nesse mar. De mentiras. Em contrapartida, os escrúpulos parecem um rio que secou e deixou à mostra aquele solo rachado. Código de Ética? É uma falsa memória implantada por uma ideologia que transpira um ódio estrutural pela Mulher/Mãe, e despreza a Criança, para defender os agressores intrafamiliares. Em nome de um processo de naturalização dos atos de lascívia incestuosos, processo que já está em curso, com vistas à legalização do abuso sexual incestuoso contra a Criança, a defesa de criminosos é garantida. Para isso ser bem-sucedido, necessário faz-se acusar e condenar Mãe e Criança que trazem a denúncia de crime praticado por um homem. É preciso lembrar que há também mulheres que praticam abusos sexuais em crianças, mas esta incidência recai em número que varia entre 0,1% a 1,0%, pertencendo a mulheres acometidas por patologias outras, distintas da questão que move os homens.
É equivocado, como já falamos, pensar que sendo este crime praticado no campo da sexualidade no corpo da criança, esse predador seria hipersexualizado. O prazer pela sensação de Poder absoluto é o gozo do predador sexual de crianças e Mulheres. Por isso sua similitude com a violação de animais e a violação de mortos. Os três grupos, Crianças, Animais e Defuntos, por sua vulnerabilidade essencial, não são capazes de dizer “não”, o que exacerba a sensação de Poder opressor.
Há uma campanha permanente de divulgação de artigos que espalham mentiras e induzem a posturas, diria mesmo, autoritárias. Transparece o quase delírio de Poder de um saber sem sustentação. Encontramos afirmações que da mesma maneira que treinamos as crianças, os pais devem ser treinados também. “Treinados”? Isso parece ser a reedição da teoria de Pavlov que treinava cães para salivarem quando uma buzina tocava. A experiência se dava para que ocorrendo a associação de uma buzina ao receber uma porção de carne, o cachorro salivava, e continuava salivando quando era enganado e só a buzina tocava, sem a carne. Os laboratórios humanos nos campos de concentração por ocasião do Holocausto também treinavam para “fabricar” diversos efeitos na resposta a um estímulo.
A maternidade e a paternidade devem ser “treinadas”? E por pessoas que seguem teorias e ideologias hegemônicas, seletivas segundo a interpretação de quem detém um Poder momentâneo, em detrimento da decisão responsável, como é uma denúncia? E todas, Mulheres/Mães e Crianças, estão mentindo? Por que então tantas campanhas pressionando para que se faça denúncia? É incoerente. Ou melhor, é uma armadilha para destilar o ódio pela Mulher, aquela que conversou com o demônio e que, ao curar doenças com folhas e ervas, era condenada como bruxa e queimada viva. A Mulher, lamentavelmente, continua a ser olhada como a amiguinha do diabo e como a bruxa que deve ser queimada. Aliás, essa saga da lei emboscada é uma fogueira social da bruxa que se insurgiu contra o ilibado homem que abusa de filhos.
Nesta enxurrada de artigos em defesa da condenação de Mulheres e Crianças, parece até que o abuso sexual incestuoso acabou porque tudo é alienação parental, o que não combina com as estatísticas que evidenciam números de casos alarmantes, uma criança é abusada a cada oito minutos. Sim. A Childhood afirma que 85% dos abusos são cometidos por conhecidos da criança, pai, padrasto, avô, tio, são os principais e, na maioria dos casos, acontece dentro de casa. Os bebês que protagonizam os vídeos pornográficos comercializados na internet, sem muita reserva, evidenciam duas questões fundamentais dessa campanha que visa confundir e naturalizar um crime.
Primeiro, bebês não apresentam nenhum item de provocação erótica, não são sensuais, como é alegado quando a vítima é uma menina e tem nove,10, 11 anos. A culpa é dela que provocou o pobrezinho do genitor. Os bebês também não se relacionam com aliciadores pelas redes sociais. Eles são explorados sexualmente dentro de casa, por pessoa que ali mora. Segundo, essa exploração do trabalho sexual infantil não entra nas compilações de casos, sendo um fator forte da subnotificação.
É estarrecedor ver que profissionais, que deveriam exercer sua função no aparelho judiciário, seguem espalhando o “copiar/colar” retirado dos estudos científicos de sequelas causadas pelo abuso sexual. Tudo copiado. Nenhuma pesquisa, nenhuma honestidade em espalhar que alienação parental causa as mesmas sequelas estudadas e acompanhadas em crianças abusadas. A “playlist” é completa. A cegueira não é da figura da Justiça personificada em estátua, é de profissionais que não têm compromisso com a verdade nem, minimamente, com a saúde mental da Criança, e, depois deitam a cabeça no travesseiro sem remorso.
A cópia dos sintomas e sequelas, que foram plagiadas de estudos consagrados de vítimas de abuso incestuoso, despreza o bom senso e adere ao absurdo. Propõe que um conflito entre os genitores terá repercussão corporal na Criança. É o sentimento de repulsa pelo corpo violado, sentido como sujo, errado, que produz os sintomas corporais, desde a alteração da autoestima até os distúrbios de autoagressão e suicídio. Esta é uma mentira que tem como objetivo despertar o fantasma da morte auto infligida. Nenhuma criança ou adolescente vai se matar porque a mãe fala mal do pai. Falta escrúpulo nessa afirmação sem eira nem beira.
Nessa obsessão de oprimir Mulher/Mãe e Criança, com violência embutida em desqualificações a quem denuncia, a meta é promover por “programação pavloviana” o desmentido dos atos abusivos relatados. É de tal ordem essa obsessão por inocentar o agressor que a defesa do regime de guarda compartilhada é uma intransigência, mesmo que haja provas dos atos libidinosos. E, diante da alcunha de “alienadora”, é ferrenha a exigência da guarda unilateral com afastamento total da Mãe, com se criminosa de alta periculosidade fosse.
O genitor abusador não pode ser afastado do convívio, como é recomendado por profissionais sérios e honestos. Um estuprador, essa é a tipificação que deveria ser prevista na Lei, não é benéfico para o desenvolvimento de sua vítima. Mas esse lobby prescreve a atrocidade de manter a convivência, argumentando erradamente, que pai é pai, e que ele não vai mais fazer nada com a criança. Outra mentira. Faz e até mata.
No entanto, o afastamento total da mãe é sempre sentenciado. Porque ela é “alienadora”. É a Privação Materna Judicial, tão estudada em psicopatologia infantil. Mas para esse grupo de profissionais, que se agregam em verdadeiras milícias intelectuais, usam pseudoconceitos embalados em ameaças executadas do alto de um Poder em autofagia. Genitor, mesmo predador, não pode ser afastado pela saúde mental da criança, não se sabe onde isto está escrito, mas a mãe, porque acreditou no que a criança contou, deve ser, totalmente, isolada.
Se tomássemos essa terminologia, que não é científica, nem tem comprovação, diríamos que o pai não pode ser alienado, mas a mãe pode ser alienada pela justiça e pela sociedade que acata essa perversidade. Mentiras, muitas. Escrúpulos, nada.