Comportamento & Equilíbrio

O Umbigo, a marca dada pela Mulher/Mãe, e só por ela — Parte II

Pensar sobre essa necessidade de um grande número de homens desvalorizar a Mulher/Mãe, o caminho escalonado do Feminicídio. Por que matar a Mãe? O que o Umbigo tem a ver com o Feminicídio?

Banal. Invisibilizado. Mas ninguém pode não possuir o seu. No entanto, ele é diferente quando está no corpo de um homem ou no corpo de uma mulher. Nos corpos masculinos eles são invisibilizados por completo. Já nos corpos femininos eles adquirem uma conotação de sensualidade, são um ponto de referência na moda das roupas, para aparecer, ou para ser somente insinuado, ele ganha um charme sexualizado. Uma espécie de atrativo, chegando até a interpretação acusatória de que a mulher está pedindo para ser estuprada quando o deixa à mostra. Será que essa diferença de olhares, diferença de significados para a mesma parte biológica do corpo humano de todos os humanos, umbigo masculino e umbigo feminino, expressam alguma coisa? Por quê? Para quê?

Homens, mulheres, e todas as legítimas variações destas duas matrizes, são diferentes em seus agrupamentos, e dentro dos próprios grupos. Todos somos únicos. Mas todos vivem, iguais, absolutamente, a experiência umbilical. A relação de vínculo visceral que tem grande chance de se construir no afeto recíproco.

Não estou afirmando amor eterno e celestial. Esse mito desse amor é um cárcere social que obstaculiza a liberdade afetiva. Estou me referindo a afeto e o amor é um elemento do afeto que deve ser fruto de decisão. O afeto se refere à responsabilidade, ao cuidado, em relação ao ser indefeso, vulnerável, em formação por muitos anos. Uma Mulher/Mãe não deveria se sentir condenada ao amor, assim como um filho também não deve ser condenado ao amor a quem detém o título mas não exerce a função de mãe.

O amor não causa dor (Foto: Pinterest)

Pode parecer estranho falar de amor como uma condenação. Tão bonito e enaltecido ser mãe… Mas precisamos entender que não é mãe é mãe, ou pai é pai, títulos de cartório, que exercem a difícil missão do cuidado responsável afetuoso pela cria vulnerável.

O Umbigo, esse ponto tão significativo no corpo de todos os humanos, não recebeu nenhuma homenagem. Os monumentos desde o Egito antigo exibem a forma fálica que aponta para o céu. Os egípcios diziam que os obeliscos homenageavam o deus do sol, Rá, pedindo proteção a ele. Uma outra interpretação fala que o obelisco traz uma união de masculino, na forma, falo, e feminino na base, que não se vê. Não encontramos representações do feminino nos monumentos ao longo de nossa história. Falos estão por toda parte. Parece que para lembrar o Poder masculino, dizem, que contra os inimigos, os invasores. Mas o falo é um invasor por excelência. Mulheres se tornaram Arte, sim. Mas, não raro, em expressões de profundo sofrimento. La Pietá é emblemática.

Violência contra a mulher (Foto: iStock)

Não nos furtaremos de fazer uma interpretação psicanalítica, afinal, é minha profissão, sobre esses falos espalhados em muitos, muitos lugares. Parece-me que eles imprimem, subliminarmente, uma sensação de opressão sexual sobre as Mulheres. Uma imagem de possível violência, uma intimidação velada.
Queremos analisar um pouco a motivação da sistemático alvejamento da Mulher, e, principalmente, da Mulher/Mãe. Pensar sobre essa necessidade de um grande número de homens desvalorizar a Mulher/Mãe, o caminho escalonado do Feminicídio. Por que matar a Mãe? O que o Umbigo tem a ver com o Feminicídio?

Ana Maria Iencarelli

Ana Maria Iencarelli

Psicanalista Clínica, especializada no atendimento a Crianças e Adolescentes. Presidente da ONG Vozes de Anjos.

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